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quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Conclusões da Formação EMRC

O Secretariado Nacional da Educação Cristã organizou a formação “ ‘A partir do coração do Evangelho’ - Hermenêutica do Programa, Instrumento de formação do Professor Reflexivo”, nos dias 6, 7 e 8 de fevereiro, no Seminário de Nossa Senhora de Fátima, em Alfragide, para Diretores diocesanos e suas equipas, professores cooperantes (vulgo orientadores de estágio) e outros professores.

Cerca de uma centena de participantes, provenientes das 20 dioceses do país, ouviram na sessão de abertura D. António Moiteiro, bispo de Aveiro e membro da Comissão Episcopal da Educação Cristã e Doutrina da Fé, falar sobre a importância e missão do professor de EMRC. Referiu que este não pode ter medo da sua identidade cristã e, sobretudo, nunca deve cair na tentação de “descafeinar o anúncio da ressurreição de Cristo. O professor de EMRC é igual a todos os outros, mas nunca pode esquecer a sua identidade própria”.


Num outro momento da formação, o padre Júlio Franklim Couto, na abordagem que fez do tema: “A hermenêutica bíblica numa disciplina confessional”, questionou os presentes sobre o espaço dado à Sagrada Escritura na EMRC e alertou que há que evitar quatro erros: o fabulismo – há que perceber que a Bíblia não é um conto para crianças; o arqueologismo – reduzir a Bíblia a um conjunto de histórias do passado; doutrinalismo – ficar apenas nas fórmulas, de modo a retirar afirmações para confirmar verdades; e finalmente o moralismo – reduzir a Bíblia a um conjunto de histórias edificantes.

As realidades são diferentes consoante as regiões do país, mas a vontade e a alegria de ser professor de EMRC é igual. E, como referiu o padre José Frazão, S.J., na sua intervenção “EMRC, profecia e dom: um jeito de ser Igreja”, os tempos não são fáceis, mas o professor de EMRC tem que enfrentar estes tempos de transição e desconforto, assumindo-se como uma presença qualificada e qualificante, capaz de marcar o lugar onde está; cabe-lhe cultivar a admiração e a gratidão pelo dom recebido, promover a liberdade, a criatividade e a responsabilidade. Há que reaprender a ser sal e fermento!

Cristina Sá Carvalho, do Departamento de Formação e Edições do SNEC, apresentou os “Pressupostos epistemológicos e pedagógicos do desenvolvimento curricular em EMRC, edição de 2014”, e Juan Ambrosio, da UCP, falou das “Finalidades e Domínios de Aprendizagem em EMRC.”

Estas duas intervenções possibilitaram um olhar sobre os princípios orientadores do programa, bem como, a sua dinâmica intrínseca: finalidades, domínios de aprendizagem, metas curriculares, objectivos e conteúdos.

Este encontro teve também em perspectiva a realização do Fórum de EMRC, “ ‘Unidos a Deus, ouvimos um Clamor’ (Evangelii Gaudium, n.ºs 187-192) A Alegria da Missão na Escola”, que acontecerá de 8 a 10 de maio próximo, onde se procederá ao lançamento dos novos manuais da disciplina.

O Encontro proporcionou ainda, em grupos e em plenário, a reflexão e o diálogo acerca de temáticas de interesse comum, como os domínios a privilegiar na formação dos professores e os modos de atuação por parte das equipas diocesanas no seu acompanhamento.

Foi, assim, um tempo de escuta, partilha e sobretudo de comunhão entre todos os presentes, que terminaram estes dias de formação com a convicção de que vale a pena ser professor de EMRC.

Departamento do Ensino Religioso Escolar
Setor da EMRC

(In Educris)

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Mensagem do Papa Francisco para o Dia do Doente

«Eu era os olhos do cego e servia de pés para o coxo» (Job 29,15)

Queridos irmãos e irmãs,
Por ocasião do XXIII Dia Mundial do Doente, instituído por São João Paulo II, dirijo-me a todos vós que carregais o peso da doença, encontrando-vos de várias maneiras unidos à carne de Cristo sofredor, bem como a vós, profissionais e voluntários no campo da saúde.
O tema deste ano convida-nos a meditar uma expressão do livro de Job: «Eu era os olhos do cego e servia de pés para o coxo» (29,15). Gostaria de o fazer na perspetiva da sapientia cordis, da sabedoria do coração.
1. Esta sabedoria não é um conhecimento teórico, abstrato, fruto de raciocínios; antes, como a qualifica São Tiago na sua Carta, é «pura (…), pacífica, indulgente, dócil, cheia de misericórdia e de bons frutos, imparcial, sem hipocrisia» (3,17). Trata-se, por conseguinte, de uma disposição infundida pelo Espírito Santo na mente e no coração de quem sabe abrir-se ao sofrimento dos irmãos e neles reconhece a imagem de Deus. Por isso, façamos nossa esta invocação do Salmo: «Ensina-nos a contar os nossos dias / para chegarmos à sabedoria do coração» (Sl 90,12). Nesta sapientia cordis, que é dom de Deus, podemos resumir os frutos do Dia Mundial do Doente.
2. Sabedoria do coração é servir o irmão. No discurso de Job, que contém as palavras «eu era os olhos do cego e servia de pés para o coxo», sublinha-se a dimensão de serviço aos necessitados por parte deste homem justo, que goza duma certa autoridade e ocupa um lugar de destaque entre os anciãos da cidade. A sua estatura moral manifesta-se no serviço do pobre que pede ajuda, bem como no cuidado do órfão e da viúva (cf. 29,12-13).
Também hoje quantos cristãos dão testemunho – não com as palavras mas com a sua vida radicada numa fé genuína – de ser «os olhos do cego» e «os pés para o coxo»! Pessoas que permanecem junto dos doentes que precisam de assistência contínua, de ajuda para se lavarem, vestirem e alimentarem. Este serviço, especialmente quando se prolonga no tempo, pode tornar-se cansativo e pesado; é relativamente fácil servir alguns dias, mas torna-se difícil cuidar de uma pessoa durante meses, ou até anos, mesmo quando ela já não é capaz de agradecer. E, no entanto, que grande caminho de santificação é este! Em tais momentos, pode contar-se de modo particular com a proximidade do Senhor que é também de especial apoio à missão da Igreja.
3. Sabedoria do coração é estar com o irmão. O tempo gasto junto do doente é um tempo santo. É louvor a Deus, que nos configura à imagem do seu Filho, que «não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida para resgatar a multidão» (Mt 20,28). Foi o próprio Jesus que o disse: «Eu estou no meio de vós como aquele que serve» (Lc 22,27).
Com fé viva, peçamos ao Espírito Santo que nos conceda a graça de compreender o valor do acompanhamento, muitas vezes silencioso, que nos leva a dedicar tempo a estas irmãs e a estes irmãos que, graças à nossa proximidade e ao nosso afeto, se sentem mais amados e confortados. E, pelo contrário, que grande mentira se esconde por trás de certas expressões que insistem muito sobre a “qualidade da vida” para fazer crer que as vidas gravemente afetadas pela doença não mereceriam ser vividas!
4. Sabedoria do coração é sair de si ao encontro do irmão. Às vezes, o nosso mundo esquece o valor especial que tem o tempo gasto à cabeceira do doente, porque, obcecados pela rapidez, pelo frenesim do fazer e do produzir, esquecemos a dimensão da gratuidade, do prestar cuidados, do encarregar-se do outro. No fundo, por detrás desta atitude, há muitas vezes uma fé morna, que esqueceu a palavra do Senhor que diz: «a Mim mesmo o fizestes» (Mt 25,40).
Por isso, gostaria de recordar uma vez mais a «absoluta prioridade da “saída de si próprio para o irmão”, como um dos dois mandamentos principais que fundamentam toda a norma moral e como o sinal mais claro para discernir sobre o caminho de crescimento espiritual em resposta à doação absolutamente gratuita de Deus» (Exort. ap. Evangelii gaudium, 179). É da própria natureza missionária da Igreja que brotam «a caridade efetiva para com o próximo, a compaixão que compreende, assiste e promove» (Ibidem, 179).
5. Sabedoria do coração é ser solidário com o irmão, sem o julgar. A caridade precisa de tempo. Tempo para cuidar dos doentes e tempo para os visitar.
Tempo para estar junto deles, como fizeram os amigos de Job: «Ficaram sentados no chão, ao lado dele, sete dias e sete noites, sem lhe dizer palavra, pois viram que a sua dor era demasiado grande» (Job 2,13). Mas, dentro de si mesmos, os amigos de Job escondiam um juízo negativo acerca dele: pensavam que a sua infelicidade fosse o castigo de Deus por alguma culpa sua. Pelo contrário, a verdadeira caridade é partilha que não julga, que não tem a pretensão de converter o outro; está livre daquela falsa humildade que, fundamentalmente, busca aprovação e se compraz com o bem realizado.
A experiência de Job só encontra a sua resposta autêntica na Cruz de Jesus, ato supremo de solidariedade de Deus para connosco, totalmente gratuito, totalmente misericordioso. E esta resposta de amor ao drama do sofrimento humano, especialmente do sofrimento inocente, permanece para sempre gravada no corpo de Cristo ressuscitado, naquelas suas chagas gloriosas que são escândalo para a fé, mas são também verificação da fé (cf. Homilia na canonização de João XXIII e João Paulo II, 27 de Abril de 2014).
Mesmo quando a doença, a solidão e a incapacidade levam a melhor sobre a nossa vida de doação, a experiência do sofrimento pode tornar-se lugar privilegiado da transmissão da graça e fonte para adquirir e fortalecer a sapientia cordis. Por isso se compreende como Job, no fim da sua experiência, pôde afirmar dirigindo-se a Deus: «Os meus ouvidos tinham ouvido falar de Ti, mas agora vêem-Te os meus próprios olhos» (42,5). Também as pessoas imersas no mistério do sofrimento e da dor, se acolhido na fé, podem tornar-se testemunhas vivas duma fé que permite abraçar o próprio sofrimento, ainda que o homem não seja capaz, pela sua própria inteligência, de o compreender até ao fundo.
6. Confio este Dia Mundial do Doente à proteção materna de Maria, que acolheu no ventre e gerou a Sabedoria incarnada, Jesus Cristo, nosso Senhor.
Ó Maria, Sede da Sabedoria, intercedei como nossa Mãe por todos os doentes e por quantos cuidam deles. Fazei que possamos, no serviço ao próximo sofredor e através da própria experiência do sofrimento, acolher e fazer crescer em nós a verdadeira sabedoria do coração.
Acompanho esta súplica por todos vós com a minha Bênção Apostólica.

Vaticano, 3 de Dezembro – Memória de São Francisco Xavier – do ano 2014.

Franciscus